quinta-feira, 9 de junho de 2011

Maré

Novo "morador" da fazendinha é um exemplo de bom humor e pensamento positivo. Depois eu explico o porque das aspas na palavra.

Maré é o nome dele, inspirado na maresia e na Brisa do mar, sua companheira.
Para Maré sempre tudo está bom, não que ele seja um cão conformado, mas ele dá um jeitinho esperto de arrumar as coisas que não dão tão certo assim.
E como as coisas não dão certo pra esse cão!!!

Ele era da rua pra começar, na rua tudo pode acontecer pra um cachorro. Carros, motos, homens, pedras, outros cachorros, frio, fome, carrapatos, ratos, lixo, doenças. Seus dentes caninos são quebrados o que quer dizer que muito osso duro ele já roeu nessa sua vida ou pancadas levou. Oque mostra que ele já tem alguns anos de idade. Não é filhote não. É veterano.
Ele apareceu na escola, quando ainda tinha aula, antes da greve. Apareceu faminto e as crianças brincavam com ele. Alguns enxotavam ele.

Como todo outro cachorro, Maré pede comida, pede carinho, late algumas vezes de alegria ou persuadido pela convicção da Brisa ele late contra intrusos.
A diferença é que Maré não depende dessas condições acima pra estar de bem com a vida.
Pra ele o pão com manteiga sempre cai com o lado virado pra cima, com a manteiga pra cima justamente porque o pão dele não tem manteiga e nem geleia, mas pra ele o pão é a manteiga e é a geleia. Já é! Ele é grato.
E faz a saudação ao sol todos os dias também.

Não se importa se a Brisa monopoliza o prato, ou as cascas de queijo ou os ossos que sobraram. Ele espera, da uma voltinha e consegue enganar a Brisa e roubar uma parte, mesmo que quase levando uma mordida. Afinal o que é mais uma mordidinha pra quem está todo lanhado. Ele é cheio de marcas de guerra.
É um malandrão, tudo ele improvisa, tudo ele dá um "jeitinho brasileiro".

Burla as regras da casa mas não prejudica ninguem. Muito pelo contrário, quando foi convidado a morar na fazendinha, salvou a vida da Brisa que estava por um fio. Não comia nem bebia fazia 4 dias. Uma veterinária já havia sido chamada e estava quase desenganada a cachorrinha. Foi só aparecer o Maré e foi como "tirar com a mão".
Podemos assim dizer que o malandro também é um milagroso garanhão.

Essa é a Brisa exibindo a coleção outono-inverno
Minha admiração por ele está nisso tudo, mas principalmente no seu modo ilegal-irregular de ser. Pois nessa sociedade onde as leis são irrealistas feitas por gente que não entende as pessoas ou que não quer entender que desconhece ou não se importa com a realidade,vale mesmo ser malandro e não se culpar por isso. Como seguir a leis injustas decretadas com autoritarismo pelo governo!Ó Vícios da história colonial.

 Assim fica a revolta, mesmo que pacífica desta greve que se alonga. Por ser este governo corrupto, fazendo o que quer com a verba do FUNDEB (verba para a educação básica) seja desviada aos milhões para a assembléia legislativa do estado de SC.  E ao invés de pagar o piso e fim de papo ainda perde tempo criando estratégias mirabolantes de achatar nossos minúsculos salários de professor. Pobres alunos! Tanto tempo perdido.
Ora ora Maré, vamos vivendo assim meu malandro querido.

São umas figuras esses dois! Sobre as aspas no "morador": Maré é um cachorro livre, e assim como a maré que ora está alta e ora está baixa, Maré tem vezes que desaparece por dias.

Um comentário:

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras
onde canta o sabiá
as aves que aqui gorjeiam,
não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas
nossas várzeas tem mais flores,
nossos bosques tem mais vida
nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, a noite
mais prazer eu encontro lá
minha terra tem palmeiras
onde canta o sabiá.

Minha terra tem primores
que tais não encontro eu cá
em cismar sozinho a noite
mais prazer eu encontro lá
minha terra tem palmeiras
onde canta o sabiá

Não permita Deus que eu morra
sem que eu volte para lá
sem que desfrute os primores
que não encontro por cá
sem qu'inda aviste as palmeiras
onde canta o sabiá.

GONÇALVES DIAS