quarta-feira, 22 de junho de 2011

Laguna e a Casa de Anita Garibaldi

A cidade de Laguna SC, além de um centro histórico riquíssimo, mirantes alucinantes onde se pode enchergar a cidade  as lagoas e o mar, nos 360º de horizonte. Laguna tem belíssimas praias e encanta por sua  história. 
A casa de Anita é um dos pontos turísticos que não pode deixar de ser visitado.
A casa onde Ana Maria de Jesus Ribeiro, posteriormente conhecida como Anita Garibaldi (1821 – 1849), se vestiu para sua primeira união, com o sapateiro Manoel Duarte de Aguiar, foi construída em 1711.
A edificação foi restaurada na década de 1970 e transformada em relicário histórico.

Retrato de Anita



Os móveis do museu simulam a casa como se Anita ainda estivesse por lá.

O vaso sanitário


Eu, me fazendo de Anita
muito corajosa

o primeiro encontro com Garibaldi


A mala de viajem pesa 72 Kg

Esta tesoura lembra de Ana Terra e Dona Bibiana do escritor Érico Veríssimo

A máquina de costura

Pintura da morte de Anita na Itália
 "... Anita estava gravemente enferma, deitada no varandão do Convento dos Capuchinhos. Encarreguei meu filho Ludovico de trazê-la junto aonde estava seu marido, tratando de suas estratégias. Ele a encontrou estendida e padecendo no chão, mas ainda forte de espírito. Meu filho a trouxe apoiada em seus braços para minha casa, onde lhe havia sido preparado uma boa cama e tudo o que nos tivéssemos de melhor de alimentos e remédios para oferecer-lhe. Minha mulher e minha filha não a abandonaram um instante sequer, oferecendo-lhe o melhor conforto... Recordo-me que no momento de deixar minha casa, Anita Garibaldi era sustentada por minha mulher e minha filhinha, as quais, com lágrimas nos olhos, pediam-lhe para ficar. Parecia que não queria separar-se delas e as beijava repetidamente. Mas a heróica mulher queria resolutamente seguir seu marido..." (Livro Giuseppe Garibaldi e Ugo Bassi in San Marino escrito pelo proprietário do Café Simoncini, Sr. Lorenzo Simoncini,  pg. 14)

BASTANTE DOENTE, ANITA INSISTIU EM ACOMPANHAR GARIBALDI Como vimos, a saúde de Anita preocupou Garibaldi seriamente, pois imaginava que era impossível que a acompanhasse em tão perigosa marcha, penhascos abaixo. Esta nova fuga seria muito mais vigiada e policiada do que até então haviam sido as anteriores. Pacientemente suplicou para que permanecesse em San Marino, até seu restabelecimento. A insistência de Garibaldi irritou Anita, que fulminou dura e seca resposta:

"-Tu queres é deixar-me ! Te contraria minha presença?"

A resposta dobrou a insistência de Garibaldi, que nada mais pode fazer. Mesmo doente e febril, Anita já estava decidida e ele compreendeu que nenhum outro argumento adiantaria.

Sem dinheiro para comprar roupas adequadas, mais leves para o calor que estava fazendo, Anita ofereceu à sua anfitriã o belo vestido que havia ganho das senhoras de Cetona, em troca de uma roupa mais adequada ao clima quente daqueles dias.

Pouco após a meia noite, Garibaldi ergue-se de uma rodada com seus oficiais e conclamou:

" -A quem quiser seguir-me ofereço novas lutas, sofrimento e exílio. Pactos com o inimigo, jamais."

Nicola Zani, um morador de San Marino serviu voluntariamente de guia, mostrando-lhes a serpenteada e quase intransitável trilha, por onde desceram durante toda a noite. Garibaldi havia encarregado alguns oficiais para explicarem e orientarem aos demais soldados, pela manhã, a decisão que tinha tomado. Após uma pequena confusão, a legião iniciou a sua dispersão e retirada, dissolvendo-se. A confusão matinal e a retirada de San Marino ocupou bom tempo, para somente após os austríacos assediantes descobrirem que Garibaldi e seu estado maior haviam, novamente, logrado sua vigilância.

A audaciosa retirada de Garibaldi enfureceu os austríacos, cujos chefes ordenaram uma caça sem trégua. Como dirigiram-se para o mar, os austríacos comunicaram imediatamente sua esquadra naval, que bloqueava a cidade de Veneza, prevenindo-os da presença de Garibaldi nas redondezas.
Passaram pelas cidades de Sogliano, onde as escondidas, foram recebidos e alimentados pelo Prefeito. Ali Anita comeu pão, queijo, melancia e tomou vinho. Wolfang L. Rau indaga: "Estará neste binômio vinho-melancia, a chave para o mistério de seu rapidíssimo falecimento?" (93)

Passaram, após, por Santa Paola, Roncofredo, Musano, Longiano e Gatteo. Às onze horas da noite, após ter mandado vanguardeiros espalharem a falsa notícia de que sua legião estava aproximando-se com milhares de homens, Garibaldi, Anita e seus homens chegaram na cidade portuária de Cesenatico. Em rápido ataque a uma guarnição austríaca ali estacionada, derrotou-os depois de algum tiroteio, aprisionando-os. Mandou buscar em suas residências alguns pescadores proprietários de treze barcos de pesca ali ancorados, movidos por uma vela central, conhecidos como "bragocci". Negociando e usando sua persuasão pela força militar, convenceu os pescadores a trocarem as embarcações pelos cavalos e outros objetos que ainda possuíam.

A troca foi feita, mas os pescadores recusaram-se a manobrar as embarcações em virtude do forte vento que soprava, que criava fortes ondas, impedindo a saída do Porto. Mesmo ameaçados por homens de Garibaldi, os pescadores fizeram-no entender ser impossível a saída do porto. Idealizou, então, levar duas âncoras para o mar aberto, após a rebentação, amarrando-as a uma forte corda, que foi estendida até onde estavam as embarcações. Segurando-se e puxando pelas cordas, os tripulantes e passageiros dos barcos poderiam puxar e ultrapassar as ondas que colocavam em risco sua saída. Iniciando a operação, ele próprio, tomou um barco pequeno, que remado pelos mais corajosos, levou as amarradas âncoras para o mar e lá as fundeou. Finalmente, quando clareou o dia, um a um os barcos de pesca já tinham-se feito ao mar. Esta operação consumiu toda a noite.


ANITA DITOU SUA ÚLTIMA CARTA
Durante aquela madrugada, a febre a prostrou ainda mais. Recostada em cordas e madeiras existentes no cais do porto, sem qualquer conforto ou medicação, sofreu dores. A única atenção lhe foi devotada pelo Padre Ugo Bassi, que com ela conversou demoradamente, que sem outra coisa pudesse fazer, limitando-se a ampara-la e a escrever uma carta que ela lhe ditou. Foi sua última carta ! Eram passadas das oito horas da manhã do dia dois de agosto, quando atingiram o alto mar. Estavam distante aproximadamente cento e cinqüenta quilômetros de Veneza. O barco em que Anita e Garibaldi estavam era chamado de Passatempo. Ao todo levava onze passageiros, além da tripulação formada por mais oito pescadores. Junto a eles estava o Padre Ugo Bassi e mais alguns fies seguidores.
Também os acompanhou o Major Leggero, que seria o derradeiro companheiro de Anita, além de Garibaldi. Foi um fiel ajudante que Garibaldi conheceu ainda no Rio de Janeiro e depois o encontrou no Uruguai, acompanhando-o na viagem de volta à Itália. Durante a defesa de Roma tinha sido ferido e quando Garibaldi retirou-se, ficou hospitalizado. Tão logo recuperou-se, seguiu-o e o encontrou as vésperas de abandonar as muralhas de San Marino.
No afã de zarpar o mais depressa possível, levaram pouca provisão, faltando-lhes água potável. Anita ficou deitada sobre algumas cordas e velames.
Ardeu de febre, solicitando água a todo instante. Durante todo o dia velejaram sem que houvesse um único incidente ou contratempo, com exceção da falta de água, que todos tinham renunciado para que não faltasse à Anita. Assim mesmo faltou ! A despeito deste enorme sofrimento, na noite que ficou no cais de Cesanatico, encontrou forças para ditar ao Padre Ugo Basi sua derradeira carta, endereçada à sua irmã:
"Cesanatico, 2 de agosto de 1849.

Querida irmã: Estou estendida no chão, exausta, no cais do porto de Cesenatico, com as costas apoiadas em sacos de tela e quem está lhe escrevendo por mim é o padre Bassi, em italiano. De algum jeito você vai conseguir entender, talvez com a ajuda de algum exilado no Rio. Preciso de ajuda para lhe escrever porque, pela primeira vez na vida, estou tão fraca que a minha vista ficou nublada. Estou com medo, sim, acho mesmo que meu fim está próximo. Gostaria pelo menos de terminar a carta de Cetona para poder entregá-la ao correio...Não sei lhe dizer por que estou me sentindo tão mal.
Não tive nenhum ferimento, mas o mal-estar, ao invés de melhorar, piorou tanto que me reduziu a este triste estado. Minha barriga parece estar ficando cada vez mais inchada e eu não estou sentindo nenhum movimento. Estou achando que meu filho está morto, que a nossa criança da primavera de Rieti nunca verá a luz. Depois da breve trégua de Cetona, continuamos a marcha rumo aos Apeninos, num sobe-e-desce de trilhas poeirentas que parecia não ter fim. Eu continuava a me arrastar atrás do cavalo e de vez em quando montava para descansar, apesar da dor na barriga. Assim como os outros pobres animais, ele estava magro de dar medo. Depois de dias e dias de caminhada, finalmente apareceu o rochedo de San Marino, majestoso, ao longe.
Gastei as minhas últimas forças para chegar perto dos muros, onde esperei a volta de José, que tinha ido na frente e entrado na cidade para pedir permissão de trânsito. Cara irmã, enquanto eu estava estendida no chão para retomar o fôlego, ouvi tiros e vi atrás de nós, no vale, parte da nossa retaguarda se dispersando, tomada de pânico pela aproximação de uma patrulha de austríacos. Não sei como encontrei forças para reagir. Eu me levantei, montei no cavalo e fui a galope na direção dos fugitivos, para incitá-los a reagir.
Mas não adiantou. Quase todos aqueles malditos covardes fugiram sem nenhuma vergonha, enquanto eu gritava para eles pararem. Não pude fazer nada para o José e, o que é pior, estou percebendo que, doente deste jeito, sou apenas um peso para ele, que agora luta pela própria vida. Este pensamento me incomoda e me angustia, pois me dá a medida de minha impotência. Mas qual é a alternativa? Foi em San Marino que me dei conta disso. Depois de vencermos tantas dificuldades para entrar na cidade, acabamos ficando lá por poucas horas. Angustiada, vi José, com o rosto tenso e os olhos fundos de tanto cansaço, obrigado a dissolver a Legião italiana. Depois, deitei-me na cama, enquanto tudo ao meu redor girava vertiginosamente. Lembro-me das mulheres, ao meu redor, tentando me convencer a permanecer na cidade até ficar curada. Até morrer, eu pensava. E me aterrorizava pensar em ficar sozinha e morrer em terra desconhecida, sem nenhum rosto amigo.
Quando o José entrou no quarto me dizendo a mesma coisa, comecei a chorar, pedindo que ele não me deixasse, que não me abandonasse. Com ele entrou um oficial. Insistiam em que eu ficasse, dizendo que não era possível continuar a fuga nas minhas condições. Quanto mais eles falavam, mais eu chorava, mais a fraqueza e a náusea tomavam conta de mim, mais eu implorava, tentando me agarrar à mão de José que estava perto de mim. Então eu ouvi a sua voz pedindo que eles entendessem, que eu precisava de ajuda para partir com ele, que eles não tinham idéia de quanto amor ele me devia. Não posso descrever o meu alivio. Acabou ficando decidido que eu descansaria por algumas horas e depois partiria com um pequeno grupo que José conduziria para Cesanatico, para embarcar rumo a Veneza.
Mas não consegui dormir nem um segundo, tal era o meu pavor de ser deixada para trás, apesar da palavra de José. As mulheres de San Marino devem ter pensado que eu era louca. Não tive coragem de confessar os meus verdadeiros medos, as minhas incertezas. Só pedi que me dessem uma saia e uma camisa de algodão, em troca do vestido de seda, para não desmaiar de calor durante a viagem. Saímos de San Marino no escuro, antes de amanhecer. Consegui levantar com a ajuda do capitão Leggero e do Padre Bassi, que também me ampararam nos piores momentos da jornada. Durante o percurso, ofereceram-me uma melancia fresca e muito doce, como aquelas que às vezes encontramos nos nossos campos... lembra? Agora estou aqui, no fim do caminho ! O que posso lhe dizer? Que faria tudo de novo?
Acho mesmo que sim ! Estou à horas assistindo às tentativas ansiosas de José para zarpar antes da chegada dos austríacos, enquanto eu, deitada no chão, sou inútil. Agora sou apenas um peso para todos, fazendo-os correrem o risco de atrasar sua fuga para a salvação. Eu sei disso, mas não consigo controlar o terror que toma conta de mim ao pensar em enfrentar a morte sozinha, sem o José. Em todos estes anos, eu me entreguei a ele, aos filhos, aos nossos ideais comuns. Agora chegou o momento da necessidade, tenho que me humilhar para pedir ajuda, como uma criança. 0 Padre Bassi me consola, dizendo que nunca serei abandonada. Daqui a pouco ele vai com esta carta à procura de um mensageiro, para lhe enviar a minha última saudação. Irmã muito querida, queria poder abraçá-la, sentir você perto de mim... mas é tarde demais. Lembre-se de mim e do afeto que sempre nos uniu. Anita." (94)

A flotilha navegou junta, sob o comando de Garibaldi, que tentava avistar e evitar encontro com os barcos austríacos que faziam o bloqueio ao sul de Veneza. Ao chegar nas proximidades do Delta do Rio Pó, por volta da meia-noite, foram avistados por cinco barcos de guerra inimigos. Garibaldi tentou iludi-los, na esperança de que fossem confundidos com barcos de simples pescadores. Mas a tentativa foi em vão, pois os comandantes estavam alertados quanto às astúcias e aos engodos do guerrilheiro da liberdade. Logo os navios de guerra abriram a boca mortal de seus canhões, tentando acertar a flotilha dos pequenos barcos.
Aos gritos, Garibaldi ordenou para que os bragocci dispersassem-se, aumentando a chance de alguns fugirem, dificultando a perseguição e captura de todos. No entanto, a tripulação de pescadores, encarregada de conduzir os barcos, atemorizada por não ser afeita aos horrores e à coragem exigida em guerra, resolveu render-se, mesmo contra a vontade dos passageiros garibaldinos. Arriaram a vela 8 dos bragocci. 160 homens foram capturados. Os 5 barcos restantes conseguiram evadir-se, rumando para as praias próxima de Magnavacca, hoje cidade conhecida como Porto Garibaldi, onde os navios adversários não puderam ancorar! Três barcos encalharam bem próximo a costa. Em um deles estava Anita. Garibaldi desceu rapidamente e levou para terra firme em seus braços a sua companheira, consciente, mas agravando-se sua febre e debilidade.

AS ÚLTIMAS HORAS DE VIDA DE ANITA
Ao que resgatou-se dos depoimentos de Garibaldi, estes foram os últimos momentos de lucidez e consciência contínua de Anita. A partir de então, passou a ter ataques e convulsões, alternando entre desfalecimentos e momentos de lucidez. O Plano previa retirarem-se em direção oeste. Após deixarem Anita em Comachio, Garibaldi prosseguiria. Já era próximo ao meio-dia quando saíram em direção a Comachio. Anita foi instalada deitada em um carro de boi. Bonet foi na frente para fazer os preparativos da chegada. Além de Leggero, Felippo Patrignani acompanhou o casal. Após duas horas de incessante calor, em uma marcha bastante lenta para ser mais confortável para Anita e por temerem encontrar forças inimigas, chegaram à casa Zanetto. A pequena comitiva foi recebida por Tereza de Carli. Eram 19:30 horas quando Bonet voltou a encontrá-los na Casa Zanetto. Tinha vindo com um barco, que juntamente com dois remadores atravessou sinuosos canais. Anita estava deitada em um leito, mas seu estado havia piorado consideravelmente, chegando a delirar em determinados momentos. Alí Bonet queria efetuar a separação do casal. Anita que inicialmente havia concordado em separar-se, para salvar a ambos, refluíu e nos momentos que voltava dos delírios, passou a implorar que Garibaldi não a deixasse morrer sozinha.
Sensibilizado, o condottieri respondeu: "Bonet você não pode imaginar quanto serviço esta mulher me prestou ! Quanto e qual ternura ela nutre por mim Eu tenho para com ela um imenso débito de reconhecimento e amor !... deixe que me siga !" O amor e a gratidão falaram mais alto do que a própria razão e Bonet acabou também concordando, sensibilizado com a cena que testemunhou, que mais tarde seria reproduzido na obra escrita e impressa em Bolonha intitulada "O Desembarque de Garibaldi em Magnavacca".
Legerro, Garibaldi e Anita embarcaram na canoa, com dois remadores por volta das 20:30 horas e durante quase toda a noite remaram pelos canais e lagoas, em direção a sua fuga, agora infletindo em direção sul, com objetivo de confundir e despistar ainda mais os austríacos, que os julgaram percorrendo direção norte. De madrugada, em local previamente determinado por Bonet, receberam mais uma canoa e os remadores foram substituídos por outros descansados, que os aguardavam. Porém, por volta das quatro horas da manhã, os remadores descobriram a identidade dos viajantes que carregavam, e amedrontados pelas ameaças e fuzilamentos sumários que já tinham acontecido com quem colaborou com o casal Garibaldi em fuga, abandonaram Anita, Giuseppe e Leggero, a despeito dos apelos que estes formularam. Os deixaram numa cabana rústica, feitas com capins, as margem do lago por onde navegaram.
A heroína foi acomodada da melhor forma possível no interior da cabana e os dois homens, sem meios e sem saber o que fazer, quedaram-se imóveis, a espera dos acontecimentos. Quatro horas depois, por volta das oito horas da manhã, foram socorridos pelos irmãos Michele e Mariano Guidi, audazes remadores e contrabandistas de peixes, enviados por Nino Bonet, que pressentindo o ocorrido, os mandou para eventual socorro. Somente a uma hora da tarde concluíram a complicada travessia das intrincadas e interligadas lagoas. Porém havia um novo problema: a charrete planejada pela Trafila, que os deveria estar esperando na Chiavica Di Mezo não estava no local indicado. Nova espera, que durou três longas e angustiantes horas.

Às 17:30 horas Anita é colocada sobre uma charrete, que dirige-se para a Feitoria de Mandriole, enquanto outra a charrete, que havia-se retardado é mandada a cidade de Santo Alberto, ali próximo, para chamar o Dr. Pietro Nannini, que deveria ser conduzido à Fazenda Guiccioli, sob o pretexto de atender a grave enfermidade da proprietária do estabelecimento para onde Anita estava sendo conduzida. Nos três quilômetros faltantes, Garibaldi seguiu a charrete a pé, fazendo sombra a Anita com um guarda-chuva, protegendo-a do fustigante sol. Naquele lento trajeto, por terreno que não era estrada de carruagem,
Anita balbuciou suas últimas palavras à Garibaldi. Falhou-lhe sobre os filhos. Disse-lhe que não tinha medo, mas que sabia que seu fim estava próximo. Pediu para que Giuseppe falasse com os filhos, que gostaria de estar com eles, que os amava muito, mas que tendo prenunciado a hora derradeira, escolheu estar perto do seu homem, lutando pela mesma causa. Implorou que a justificasse perante aos filhos de como era difícil para ela ser mãe, esposa de um homem como ele e compelida pelo dever de consciência a ter que lutar por um ideal.


"NÃO, NÃO ELA NÃO ESTÁ MORTA"
Logo em seguida, momentos antes de chegar à Fattoria Guiccioli Anita não mais falou, já agonizava e uma leve espuma vertia de seus lábios, que Garibaldi insistia em limpar a todo o instante com um lenço que mantinha nas mãos. Quando chegaram finalmente ao sobrado da Fazenda, já estava presente o médico Dr. Nannini, que atendendo as súplicas de Garibaldi (- "por amor a Deus, salvai-a!"), ordenou que fosse transportada para dentro de casa. Garibaldi, Leggero, Manetti e Nannini, cada um pegou em um dos cantos do colchão onde estava deitada e a transportaram para o andar superior do casarão da Feitoria, deitando-a em uma cama de ferro de um pequeno quarto.

A resistência de Anita havia atingido os limites humanos e seu combalido corpo não havia resistido a tamanhas provações. Ao ser transportada para o interior da casa poucos minutos de vida ainda restavam-lhe. O médico, após examiná-la, resignado, sentenciou que nada mais podia ser feito, que sua vida agonizava, que estava prestes a expirar.
Em suas memórias, Garibaldi escreveu: "Ao depor minha mulher no leito, me pareceu descobrir em seu rosto a expressão da morte. Tomei-lhe o pulso... já não batia. Eu tinha diante de mim o cadáver da mãe de meus filhos, que eu tanto amava."
Quando convenceu-se que o manto negro da morte havia sobreposto sua escuridão sobre as irradiantes luzes que sua companheira irradiou durante àqueles dez anos, Garibaldi não mais conteve o pranto, dobrou-se sobre a moribunda e extravasou tudo o que sentiu naquele doloroso momento. Ajoelhou-se ao lado da cama, segurou com as duas mãos a face de Anita e exclamou:
" - Não, não, ela não está morta! Não é senão um novo ataque. Muito teve que sofrer, mas ela vai ficar boa ! Não está morta ! Anita ! É impossível ! Olha para mim Anita ! Fala comigo ! Quanto eu perdi !" (95)
Anita acabara de expirar ! Eram 19:45 horas de sábado, dia 4 de agosto de 1849.

2 comentários:

  1. Amiga,estive em Laguna nos anos 70,quando trabalhei em Santa Catarina.
    Gostei demais de conhecer seu blog e voltar á casa de Anita tantos anos depois. bjks

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  2. Miriam, muito obrigada pela sua visita! Seja sempre bem vinda a este blog.
    Estou curtindo os seus blogs também! É uma honra ter uma escritora baiana como seguidora!
    Beijos, Cacau.

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Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras
onde canta o sabiá
as aves que aqui gorjeiam,
não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas
nossas várzeas tem mais flores,
nossos bosques tem mais vida
nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, a noite
mais prazer eu encontro lá
minha terra tem palmeiras
onde canta o sabiá.

Minha terra tem primores
que tais não encontro eu cá
em cismar sozinho a noite
mais prazer eu encontro lá
minha terra tem palmeiras
onde canta o sabiá

Não permita Deus que eu morra
sem que eu volte para lá
sem que desfrute os primores
que não encontro por cá
sem qu'inda aviste as palmeiras
onde canta o sabiá.

GONÇALVES DIAS